Proximidade

postado dia 05 outubro 2013


Lápis desapontados, pintando as mesmas coisas pintadas há séculos atrás. O não pertencer ocupando espaço, solidão esvaziando o espaço vazio. E nesse calor infernal junto do frio glacial, ando tão irracional. Eu algum canto da cidade vive a outra metade da minha alma, dormindo para não ver o amanhã amanhecer. Escondendo as dores nas entranhas da alma, nas cicatrizes do corpo, no fechar e abrir das pálpebras. Meu amor copiando tantos outros. Eu simplesmente a repetir, nesse círculo vicioso, dessa vida viciada. Gritando meus medos aos surdos. Lágrimas rolando secas, tão secas quanto o asfalto ao meio-dia. Nós por todo o corpo. O corpo sentindo falta do outro, do ouro de outro corpo. O ouro que é a ação da gravidade entre dois corpos.

Afastam-se. Esgotam-se. Sonhar é carregar o mesmo peso de agir. Simples gotas d'água caindo no corpo morno, quente por causa do sol. O frio da alma permanece, como um aviso de destino, de morte. As mãos deslizando pelas curvas frias, úmidas de uma umidade quase inventada. Sem portas batendo, ou gritos longínquos. Apenas um verão infernal, invernal. A liberdade de quem desfaz-se das roupas em uma tarde de calor e, no simples ato da entrega ao nada, sentir esse nada tomando conta dos espaços existentes e inexistentes. Contemplando o mundo feito criança abismada, feito gente entusiasmada.

Algo transparente como água saindo das mãos, como um rio puro. Um rio de pureza do corpo experiente, do corpo... O controle descontrolado, as ordens, ordens, ordens. E de serem tão ordenadas, transformaram-se em ecos. Ordens, ordens. Feito oração para expulsar a maldade. Feito mantra para encontrar a alma no seu desencontro. Algo brotando feito árvore firme. Amor? Ah, andam todos tão cansados de amar que tenho medo. Aqui, amando minhas coisas e amando-as para que o mundo não as ferisse. O ato da perda, a falta da insignificância de outro corpo próximo, de outra troca por perto. Era como estar em algum lugar desconhecido, incapaz de mover-se. O sopro sessava em sua mente e sentia que apagaria em poucos segundos. Tudo estava acabado. Nada de socorro imediato.

Os gestos, ações. Cobranças de fidelidade, lealdade, simplicidade, ingenuidade. Como se resgata uma alma perdida? O rosto bem delineado, de linhas retas, formando um contorno perfeito. O olhar digno de anjo, tamanha era a sua incerteza. O corpo obedecendo, convertendo-se em máquina programada por algum fabricante desconhecido em países estranhos. Mãos menores, o corpo frágil, o juramento da eterna proximidade. Vontade de ser...

Tudo escapando das mãos ao menor sopro. Sopro para que tudo se afastasse, o lugar deveria ser do próximo merecedor de tamanha liberdade falsa. A suada despedida entre alguns, entre outros e todos. Possibilidade de incompatibilidade. Falta de exatidão.

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8 comentários:

  1. Na hora que vi o título, sabia que mais outra crônica bem intensa da Gleh estava por vir ;D
    Você escreve com extrema maestria, e é como se nos leitos estivéssemos lendo um clássico da literatura que deve ser lido com o coração.
    A cada conto você se supera mais e mais, e se um dia lançar um livro quero ser o primeiro a comprar rsrs *--*

    Beijooos.
    Lauro,
    http://entreversosepaginas.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Meu objetivo é chegar no nível dos escritores clássicos, rsrs. Como acho que ainda não tenho capacidade para um romance, meu primeiro livro será de contos. Ah, muito obrigada pelo carinho/admiração. Fico muito feliz com cada comentário.

      Beijos de luz!

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  2. Confesso que gostei mais dos outros contos, esse eu achei muito filosófico. É lindo, incrivelmente lindo, mais não me agradou tanto como os outros. Parabéns da mesma foram, você escreve muito bem. Muito bem mesmo!

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  3. que texto lindo, não canso de ler os seus 'devaneios'. A gente fica com vontade de ler em livro rsrsrs
    bjs

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  4. Achei muito bonito, porem gostei mais dos outros, eles mexeram mais comigo.
    Mesmo assim você está de parabéns !

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  5. Sinceramente eu amei!! Achei super profundo e que me fez pensar em várias coisas...Parabéns mesmo sua escrita é maravilhosa!!
    Bjuss

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  6. Gostei, principalmente do final! *-* Lindo demais! Você escreve muito bem, é indiscutível, rs Quando sairá o livro pra nos fazer felizes? rs

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